sábado, 23 de novembro de 2013

Quarto

A luz reflete
Na cortina meio fechada
Do quarto meio escuro
Da menina inconstante

É templo de paz, de amor
E de dúvida
Sobre a existência do tudo
E da própria vida
Que não sabe o que ser

Em meio a risos e histórias
Divertidas durante os dias
Mora a alegria
De chegar, cansada
No seu lar

E aposentar o sorriso
Pra ficar com os pensamentos
Que restam
Sejam tormentos
Ou agradecimentos
Até a hora de deitar

Poema de Aula

Há dias de canções e flores
E dias de encontrar amores
São dias de alegria imensa
Em que todo segundo é sim

Há dias de sofrer calado
E dias de deixar de lado
Momentos daquele passado
Em que cada suspiro foi fim

Aí mora a felicidade
Dentro da dualidade
De aprender com a tristeza
E ter pelo que sorrir

Se me desfizer de uma
A outra também vai embora
E se nenhuma delas tenho
Deixo de existir

domingo, 27 de outubro de 2013

A ausência do acordar irreversível

Estou cansada de dormir para a vida. Cansada de acordar e dormir todos os dias com a mesma dúvida, com o mesmo martírio do existir sem propósito. Cansada de viver sem saber, sem fazer, sem conseguir realizar planos sonhados com tanto carinho durante os anos...
De repente fui penetrada por sonolência e apatia sem interrupção. Não existe vida mais monótona. Nada me espanta, nada me excita ou interessa. Sou um zumbi virtual, uma espécie de morta viva. Mas no fundo, minha alma chora para escapar da prisão. Esse é um problema. Minha alma chora, mas não luta. Ela lamenta. E isso não leva a nada.

Como eu desejo ser diferente do que sou hoje. Como eu desejo realizar, ter força e coragem pra seguir em frente.. Mas sempre me pego assim, em vésperas, desesperada por saber que, mais uma vez, não vou conseguir o que almejo por culpa exclusivamente minha. E me vejo, me entendo, me prometo um acordar irreversível. "Depois desse dia, serei uma nova pessoa!", planos, planos, um futuro brilhante. Nesses momentos meus olhos brilham por imaginar o que posso e quero ser se eu apenas fizer o que me prometo todos os dias. Mas na hora de realizar, toma conta de mim a apatia, a sonolência, o desejo de fazer qualquer coisa que não me exija esforço intelectual. Minha mente sempre está cansada demais para pensar assim.

Há um forte componente de preguiça nisso tudo. Mas é mais do que isso. Percebi há alguns dias que até meu senso de responsabilidade está lentamente se esvaindo. Nem o desespero de uma prova que pode me custar um semestre inteiro me dá coragem suficiente para estudar. Eu só quero pairar, dormir..

Cheguei a pensar várias vezes que meu curso não era certo pra mim. Mas cada vez mais tenho chegado à conclusão de que o problema não é o curso, mas algo dentro de mim, minha vontade. Às vezes, assistindo a uma aula ou em pequenos momentos, meu espírito se enche de alegria e de entusiasmo, de vontade de compreender, curiosidade. Mas quando preciso buscar a compreensão, ler para entender, tomam conta de mim a sonolência e a apatia. Que tristeza! Como eu queria entender aquilo, como eu queria saber! Mas meu corpo me trai.

Agora, por exemplo, estou escrevendo esse texto na véspera de uma prova. Não estudei para ela. Tive tempo. Mas não estudei. Minha vida se resumiu a assistir as aulas, chegar em casa, jantar, observar a internet, assistir uma novela e dormir em seguida. E no fim do dia, sempre aquela sensação de cansaço de um acomodado. Sempre um martírio, um castigo e um poço de reclamação. 

Até quando vou levar minha vida dessa maneira, eu não sei. E realmente espero que não seja por muito tempo. Mas ultimamente tenho esperado muito por mim, e eu não compareço. Espero não ter que esperar para sempre.

Estou cada vez mais me policiando para não falar isso aos outros. Percebo cada dia mais o quanto é chato e tedioso escutar um acomodado reclamar da vida e prometer mudanças todas as semanas. Por isso, finjo cada vez mais estar bem. Ser uma estudante como outra qualquer. Mas por dentro, me despedaço todos os dias por saber que estou jogando a minha vida fora, em troca de internet e novelas, sono e visitas diárias ao nada. 

A única coisa que ainda consegue me trazer felicidade é a música, e mesmo assim, menos do que antigamente. Há algo de errado comigo. Sei que só quero desculpas e soluções que venham de fora. Mas isso é reflexo do meu desespero que já não encontra mais barreiras para se resolver. Eu preciso sair desse estado. Eu preciso mudar a minha vida.

Eu quero fazer o que me faz feliz, quero assistir a uma aula e compreender o que o professor fala, quero ler e compreender, lembrar do que aprendi.. Quero aprender diariamente, quero ser ativa, quero cantar para todos ouvirem. Quero dançar, quero amar e ser amada, quero ter atitude e me sentir bem comigo mesma. Quero poder dizer de forma genuína que sou feliz. Apesar de todos os motivos que tenho para ser feliz, não me considero plena. E peço perdão a Deus por isso. Mas não posso fingir que a vida que levo me faz feliz. E é tudo uma questão interior.

Estou esperando pelo acordar irreversível, mas ele nunca chega. Porque eu não chego. O acordar irreversível sou eu, mas estou escondida em algum lugar que eu mesma desconheço. Buscando.